A presença portuguesa inclui ainda duas longas-metragens na competição principal do festival, o

Concurso Internacional: Manga d’Terra, terceira obra do luso-suíço Basil da Cunha (O Fim do Mundo, Até Ver a Luz), e Baan/Casa, primeira ficção longa de Leonor Teles (Terra Franca, Balada de um Batráquio), com estreia respectivamente nesta sexta-feira, dia 4, e na próxima terça-feira, dia 8.

Público
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08/02/2023

Leonor Teles

BAAN

A 76.a edição do festival suíço inicia-se nesta quarta-feira e corre até 12 de Agosto, com sete produções ou co-produções portuguesas nas principais secções competitivas.


É com Nocturno para uma Floresta, a nova curta-metragem de Catarina Vasconcelos (A Metamorfose dos Pássaros), que tem início a presença portuguesa na 76.a edição do festival de Locarno. O festival suíço arranca na noite desta quarta-feira e prolonga-se até dia 12 — a curta-metragem de Catarina Vasconcelos será exibida na quinta-feira, pelas 14h30, na secção competitiva de curtas Leopardos do Amanhã.


A presença portuguesa inclui ainda duas longas-metragens na competição principal do festival, o Concurso Internacional: Manga d’Terra, terceira obra do luso-suíço Basil da Cunha (O Fim do Mundo, Até Ver a Luz), e Baan/Casa, primeira ficção longa de Leonor Teles (Terra Franca, Balada de um Batráquio), com estreia respectivamente nesta sexta-feira, dia 4, e na próxima terça-feira, dia 8.


Confirma-se assim o papel do festival suíço na divulgação internacional do cinema de autor português, depois de em edições anteriores ter mostrado obras de Rita Azevedo Gomes, João Nicolau, João Pedro Rodrigues, Gonçalo Tocha, Carlos Conceição ou Joaquim Pinto e Nuno Leonel — e de ter dado o Leopardo de Ouro a dois cineastas nacionais, Pedro Costa (por Vitalina Varela, em 2019) e José Álvaro de Morais (por O Bobo, em 1987). O próprio Basil da Cunha é uma presença “repetente”, tendo estreado O Fim do Mundo na competição de 2019. Todos beneficiaram da atenção que Locarno sempre estendeu a cinematografias menos exploradas e a autores em ascensão, e que o tornou num ponto de encontro para quem vai à procura de outras linguagens, sem que por isso o festival tenha perdido uma dimensão de glamour resultante da sua localização.


A proximidade idílica das montanhas e do lago Maggiore e as projecções nocturnas ao ar livre na Piazza Grande (com capacidade para 8000 espectadores) permitem-lhe um equilíbrio entre a "passadeira vermelha” e o cinema de autor, “mediado” pelas retrospectivas atentas de reportório que ocupam quase por completo a sala vintage do Gran Rex (a de 2023, organizada pelo programador e crítico alemão Olaf Möller, é dedicada ao cinema popular mexicano dos anos 1940-1960), e atraem cinéfilos de todo o mundo.


Depois dos solavancos da pandemia de covid-19, que levaram à inexistência física do festival em 2020, a uma mudança de direcção e a uma edição muito reduzida em 2021, Locarno tem procurado sustentar a posição de “ponta-de-lança” revelador dos próximos “autores” do cinema global, conquistada ao longo do último quarto de século através das direcções de Marco Müller, Olivier Père ou Carlo Chatrian, bem como tem tentado recuperar a “vibração” presencial perdida com os confinamentos globais.


A edição de 2023 é a terceira sob a direcção do programador suíço Giona Nazzaro, e a última sob a presidência de Marco Solari, que se despede após 23 anos no cargo. A inauguração, nesta quarta-feira à noite, faz-se com a co-produção franco-belga L’Étoile Filante, de Fiona Gordon e Dominique Abel, misto de comédia negra e film noir com uma série de “personagens moralmente ineptas”; o encerramento oficial, na noite de sábado, dia 12, cabe a Shayda, primeira longa da irano-australiana Noori Niasari, sobre uma exilada iraniana que procura fugir a um casamento abusivo.


São 17 filmes de todo o mundo que concorrem ao Leopardo de Ouro, entre as quais as longas de Leonor Teles e Basil da Cunha e duas outras co-produções portuguesas minoritárias, Essential Truths of the Lake, do filipino Lav Diaz, e El Auge del Humano 3, do argentino Eduardo Williams, realizadores já anteriormente premiados em Locarno.


Outros nomes conhecidos a concurso incluem o francês Quentin Dupieux (com Yannick), o romeno Radu Jude (com Do Not Expect Too Much of the End of the World) e o documentarista francês Sylvain George (com Nuit Obscure – Au Revoir Ici, n’Importe Où). O júri desta edição é presidido pelo actor francês Lambert Wilson, e integra ainda a realizadora escocesa Charlotte Wells (Aftersun), a actriz iraniana Zar Amir Ebrahimi (Holy Spider), a programadora norte-americana Lesli Kleinberg e o neerlandês Matthijs Wouter Knol, presidente da Academia Europeia de Cinema.


Haverá outras 15 primeiras ou segundas longas-metragens na competição secundária Cineastas do Presente, e 40 curtas na secção Leopardos do Amanhã (20 no Concurso internacional, dez no Concurso nacional, restrito a produções suíças, e dez no concurso Curtas de Autor). Para além de Catarina Vasconcelos e do seu Nocturno para uma Floresta, encontramos igualmente a concurso Slimane, curta de bandeira alemã realizada na Academia de Cinema e Televisão de Berlim pelo português Carlos Pereira, e o filme de animação De Imperio, produção portuguesa escrita e dirigida pelo italiano Alessandro Novelli.


De salientar ainda a presença em Locarno de três portugueses no programa de indústria para jovens produtores Match Me!: Catarina de Sousa (co-realizadora de Tracing Utopia e co-fundadora, com Isadora Pedro Neves Marques, da Foi Bonita a Festa); Bernardo Lopes (da Omaja Filmes, com currículo em televisão e telediscos); e Paulo Carneiro (realizador de Bostofrio e Périphérique Nord e responsável da Bam Bam Cinema).


Ao todo, o festival programará 214 filmes oriundos de 53 países diferentes. Fora de concurso, nas noites da Piazza Grande, exibir-se-ão a Palma de Ouro de Cannes 2023, Anatomie d’une Chute, de Justine Triet; The Old Oak, do inglês Ken Loach; ou o último filme do cineasta francês Paul Vecchiali, falecido em Janeiro último, Bonjour la Langue.


Os principais homenageados deste 76.o Festival de Locarno serão a produtora neerlandesa Marianne Slot (prémio Raimondo Rezzonico), o cineasta norte-americano Harmony Korine (Leopardo de Honra), o realizador e artista malaio-taiwanês Tsai Ming-Liang (Leopardo de Carreira), e ainda o montador Pietro Scalia, o produtor Renzo Rossellini e o actor Riz Ahmed — que cancelou a sua visita ao festival devido à actual greve dos actores organizada pelo sindicato norte-americano SAG-AFTRA, à imagem de outro homenageado desta edição, o sueco Stellan Skarsgård.

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