De Locarno chegaram esta manhã, uma vez mais, excelentes notícias para o cinema português. “Baan (Casa)”, novo filme de Leonor Teles, concorre pelo Leopardo de Ouro na secção mais importante do festival.
De Locarno chegaram esta manhã, uma vez mais, excelentes notícias para o cinema português. “Baan (Casa)”, novo filme de Leonor Teles, concorre pelo Leopardo de Ouro na secção mais importante do festival. É a primeira longa-metragem inteiramente ficcional da cineasta após “Terra Franca” e segue duas raparigas in the mood for love que andam a gravitar uma em torno da outra, uma portuguesa, outra tailandesa. Com os pés em Lisboa e a cabeça em Banguecoque, procuram talvez, numa simultaneidade de tempos, o que a palavra 'casa' significa hoje em dia. A produção é da Uma Pedra no Sapato de Filipa Reis e João Miller Guerra, os autores de “Légua”, atualmente em exibição nas salas
Leonor Teles não será a única portuguesa em Locarno a disputar o Leopardo de Ouro que José Álvaro de Morais venceu em 1987 (por “O Bobo”) e Pedro Costa em 2019 (por “Vitalina Varela”). Este concurso, de resto, tem dado um ênfase muito forte ao cinema nacional nos últimos tempos. Em 2022, foi nesta secção que competiu “Nação Valente”, de Carlos Conceição. Ao novo filme de Leonor, junta-se “Manga d'Terra”, nova longa- metragem do luso-suíço Basil da Cunha, que vive entre Genebra e a Reboleira, na Amadora, onde tem dado continuidade ao seu trabalho.
“Manga d'Terra” tem um título crioulo pois segue Rosa (papel de Eliana Rosa), uma cabo-verdiana de 20 anos que deixou duas crianças no seu país e veio para Portugal à procura de trabalho e vida melhor. Apanhada no fogo cruzado entre bandos criminosos e a polícia nos arredores de Lisboa, encontra conforto nas mulheres da sua comunidade e refugia-se na sua maior paixão: a música. Basil da Cunha tem também uma nova curta- metragem, “2720”, que Vila do Conde exibirá a partir da próxima semana.
Leonor e Basil terão por concorrentes em Locarno “Yannick”, novo filme do francês Quentin Dupieux, “Do Not Expect Too Much of The End of The World”, do romeno Radu Jude e “Nuit obscure – Au revoir ici, n'importe où”, do francês Sylvain George, entre outros.
No lote dos 17 candidatos estão igualmente “El Auge del Humano 3”, do argentino Eduardo Williams, e “Essential Truths of the Lake”, do filipino Lav Diaz – e é excelente assinalar que ambas são coproduções que envolvem Portugal. “El Auge del Humano 3” tem a participação da Oublaum Filmes, de Ico Costa, que já antes colaborou com obras anteriores de Williams; em “Essential Truths of the Lake” está a Rosa Filmes, de Joaquim Sapinho.
No lado das curtas-metragens, Catarina Vasconcelos mostrará em “Nocturno Para Uma Floresta” o que fez após “A Metamorfose dos Pássaros”, grande êxito de estima nos quatro cantos do mundo. “Nocturno Para Uma Floresta” passa na secção Pardi di Domani, na sub-secção Curtas de Autor, dedicada a cineastas que já conquistaram alguma visibilidade. Já Carlos Pereira concorre na categoria internacional por “Slimane”, uma produção alemã, no mesmo lote em que se encontra “De Imperio”, animação do estúdio portuense BAP realizada pelo italiano Alessandro Novelli.
Locarno aproveitará para exibir no Ticino, fora de concurso, novos filmes de cineastas com elos ao certame suíço como Franco Maresco, Denis Côté ou Bertrand Mandico. Destaca-se nesta secção “Bonjour la langue”, tanto quanto se sabe um filme póstumo do francês Paul Vecchiali, desaparecido em janeiro deste ano. Apresentará o filme o ator francês Pascal Cervo. Barbet Schroeder, veterano cineasta e produtor, mostrará também um novo trabalho neste grupo, “Ricardo et la peinture”.
Locarno 2023 vai atribuir um Leopardo de Ouro à carreira ao grande cineasta do Taiwan Tsai-Ming Liang, um dos artistas mais seminais do cinema contemporâneo, e homenageará, entre outros, o italiano Renzo Rossellini e o norte-americano Harmony
Korine. A retrospetiva do ano, que em Locarno é sempre um acontecimento à parte, é especialmente tentadora para os cinéfilios já que incide numa seleção criteriosa do melhor cinema popular mexicano realizado entre os anos 40 e os anos 60.
Batizada a preceito, a retrospetiva “Espectaculo a diario – Las distintas temporadas del cine popular mexicano” mostrará obras de Roberto Gavaldon, Alejandro Galindo, Chano Urueta, Matilde Landeta, Juan Bustillo Oro, Tito Davison, Gilberto Martinez Solares, Rene Cardona e, claro, de Emílio “El Indio” Fernandez, sem esquecer a rica fase mexicana que Luis Buñuel deixou do lado de lá do Atlântico.